Precisei de dois dias para entender que o vulto fugidio que eu via na janela era uma curiosa rolinha – um macho, como soube meses depois, dada a plumagem azulada na cabeça. Era o terceiro mês que eu colocava frutas num pratinho preso do lado de fora do vidro, no 5º andar de um prédio em frente a uma avenida barulhenta e movimentada. Nascida no interior de São Paulo, onde me acostumei a ver passarinhos nos quintais, me encantei, depois de muitos anos morando na metrópole, com a possibilidade de atraí-los para a minha janela.
Assim como eu, muita gente vem tentando receber a visita dessas aves em suas casas e apartamentos. É uma forma de ter um contato mais próximo com a natureza, mesmo morando na cidade. Além disso, ter passarinhos por perto também pode ser muito útil, uma vez que eles fazem a polinização das plantas e ainda mantêm um bom controle das pragas que as infestam. O que há de mais novo nesse movimento é a maior conscientização ecológica que ele pressupõe: há uma notável preocupação em oferecer aos visitantes alimentos naturais, evitar o surgimento de pombas urbanas e, claro, deixar o passaredo em liberdade. Gaiola, nem pensar.