Caçadora em pele de ambientalista

Beatriz Rondon, dona de uma fazenda de 35 000 hectares no Pantanal de Mato Grosso do Sul, era citada co¬mo um exemplo de protetora da fauna, principalmente das onças-pintadas. Ex-presidente da Sociedade para a Defesa do Pantanal e parceira de ONGs ambientalistas como a Conservação Internacional, ela dizia defender, em suas palavras, “a natureza e a cultura pantaneiras”. Na semana passada, revelou-se que a militância ecológica de Bea¬triz era uma farsa e que, há pelo menos quinze anos, ela ganhava muito dinheiro permitindo a caça às onças-pintadas numa fração de sua fazenda que constitui reserva privada natural estadual. Isso é crime. A lei proí¬be qualquer tipo de caça em território nacional. Um vídeo entregue à Polícia Federal, em denúncia anônima, mostra que ela recebia visitantes, a maioria deles estrangeiros, que pagavam 30 000 dólares para abater onças a tiros. O pacote incluía um jato particular para levar os caçadores até o Pantanal, armas, guias especializados e estadia em pousadas, como a que fica na propriedade de Beatriz. Às vezes, ela própria atua¬va como guia para rastrear os animais na mata, com a ajuda de cães.

O vídeo, de quarenta minutos, ao qual VEJA teve acesso na íntegra, chama-se In the Tracks of Big Cats (Nos Rastros de Grandes Felinos). Narrado em inglês, o texto descreve “as maravilhas da caça à onça” nas terras de Beatriz e as imagens incluem cenas chocantes de felinos encurralados em árvores e mortos a espingarda. A certa altura do vídeo, Beatriz sorri quando vê uma onça morrer e diz: “É uma grande fêmea, muito bonita, e estava comendo minhas vacas aqui”. Detalhe: Beatriz foi uma das beneficiadas de um programa de proteção às onças da Conservação Internacional que, até 2004, pagou a pecuaristas 200 dólares por cada rês de seus rebanhos morta pelos felinos.